Um novo estudo do MIT mostra que a dopamina conhecida como o “hormônio do prazer” tem um papel fundamental para que o cérebro entenda quando um perigo já passou.
A descoberta ajuda a explicar por que conseguimos, com o tempo, esquecer certos medos e traumas.
E aponta novos caminhos para tratar a ansiedade e o TEPT (transtorno de estresse pós-traumático).
Quando o medo deve acabar?
Sentir medo diante de um perigo real é natural e necessário para a sobrevivência.
Todavia, quando esse medo continua mesmo depois que o perigo já passou, pode se tornar um problema emocional.
Segundo pesquisadores do MIT, a chave para “desligar” esse medo pode estar na dopamina.
O estudo, feito com camundongos, identificou que o cérebro usa a dopamina para sinalizar que está tudo bem e assim aprender que o medo não é mais necessário.
Esse processo é essencial para manter o equilíbrio emocional e evitar transtornos como ansiedade crônica ou TEPT.
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Como funciona a extinção do medo no cérebro
Anteriormente, os cientistas já haviam descoberto que duas regiões da amígdala — uma parte do cérebro ligada às emoções — são responsáveis por guardar e apagar memórias de medo:
- A parte anterior da amígdala basolateral (aBLA) grava as memórias de perigo.
- A parte posterior da amígdala basolateral (pBLA) registra a memória de que o perigo passou — e, curiosamente, também está ligada à sensação de recompensa.
O novo estudo revelou como a dopamina ativa essas regiões para estimular esse “desaprendizado” do medo.

O papel da dopamina: recompensa e alívio
A dopamina é famosa por estar ligada ao prazer e à motivação, mas também participa ativamente de processos de aprendizado emocional.
Neste estudo, os pesquisadores mostraram que:
- A área tegmentar ventral (ATV) do cérebro envia dopamina para a amígdala.
- Essa dopamina ativa diferentes grupos de neurônios, dependendo do momento:
- Durante o susto, ela ativa os neurônios da aBLA (que guardam o medo).
- Quando o perigo some, ativa os neurônios da pBLA (que ajudam a esquecer o medo).
Os cientistas acompanharam, por três dias, camundongos que receberam choques leves em um ambiente.
Com o tempo, ao voltar ao mesmo local sem choques, os animais começaram a relaxar — e isso coincidia com o aumento da dopamina nos neurônios da pBLA.
O que acontece se manipulamos esse circuito?
Para confirmar que a dopamina realmente controla o processo de apagar o medo, os pesquisadores fizeram experimentos mais profundos:
- Quando inibiram a dopamina nos neurônios da pBLA, os camundongos demoraram mais para esquecer o medo.
- Quando aumentaram a dopamina, a extinção do medo foi mais rápida.
- Curiosamente, ao ativar a dopamina nos neurônios da aBLA, os cientistas conseguiram trazer o medo de volta, mesmo sem novos choques.
Isso mostra que a dopamina não apenas participa, mas controla ativamente a forma como o cérebro armazena e apaga medos.
Por que isso importa para humanos?
O estudo reforça que a ansiedade e o TEPT podem estar ligados a falhas nesse circuito de dopamina.
Ou seja, quando o cérebro não envia o sinal de “tudo bem”, o medo se mantém, mesmo sem perigo real.
Ao entender melhor como a dopamina atua nesse processo, cientistas e médicos poderão criar tratamentos mais eficazes para transtornos emocionais, estimulando o cérebro a extinguir medos de forma mais saudável.
✅ Conclusão
A pesquisa revela que esquecer um medo é um aprendizado, e não apenas um apagamento.
A dopamina funciona como um sinal positivo que ajuda o cérebro a registrar que o perigo passou.
Esse novo conhecimento pode ser crucial para desenvolver terapias mais eficazes contra a ansiedade, fobias e TEPT, oferecendo esperança a milhões de pessoas que vivem presas a medos do passado.

✅ Referências do estudo
Materiais fornecidos pelo Instituto Picower do MIT .
Referência do periódico
- Xiangyu Zhang, Katelyn Flick, Marianna Rizzo, Michele Pignatelli, Susumu Tonegawa. A dopamina induz a extinção do medo ao ativar os neurônios da amígdala, que respondem à recompensa . Proceedings of the National Academy of Sciences , 2025; 122 (18) DOI: 10.1073/pnas.2501331122
Como Podemos Praticar este estudo?
🧠 1. Exponha-se gradualmente a situações que causam medo
O estudo mostra que o cérebro aprende que o perigo passou quando é exposto repetidamente ao mesmo ambiente sem ameaças reais esse é o princípio da extinção do medo.
Como praticar:
1- A cada exposição segura, a dopamina pode sinalizar ao cérebro que “está tudo bem agora”.
2- Volte, de forma controlada e segura, a situações que geraram medo no passado.
3- Faça isso em pequenos passos (ex.: falar em público para amigos antes de uma plateia maior).
🧘 2. Estimule experiências de prazer e segurança após o medo
Como a dopamina também está relacionada à recompensa, vincular o fim de uma situação estressante a algo prazeroso ajuda o cérebro a entender que “o pior passou”.
Como praticar:
- Após um desafio emocional, faça algo que você gosta (ex.: caminhar, ouvir música, tomar um chá).
- Reforce para si mesmo com palavras como “consegui”, “não há mais perigo”.
- Essa associação fortalece a ativação dos neurônios da pBLA — ligados ao alívio e à extinção do medo
🏃♂️ 3. Pratique atividades físicas prazerosas
O exercício físico regular é um potente liberador de dopamina e pode contribuir para reequilibrar esse circuito neural.
Como praticar:
- Escolha exercícios que tragam prazer (dança, caminhada ao ar livre, natação).
- Pratique de forma consistente (3 a 5 vezes por semana).
- O movimento ajuda a reduzir o medo residual e regula a ansiedade.
📝 4. Registre conquistas e momentos de superação
A dopamina é liberada quando sentimos progresso e recompensa. Relembrar superações pode estimular o cérebro a fortalecer memórias de segurança.
Como praticar:
- Tenha um diário de vitórias emocionais (ex.: “Hoje enfrentei meu medo de falar com meu chefe”).
- Leia suas anotações quando o medo aparecer novamente.
- Isso ativa o sistema de recompensa e reforça o aprendizado emocional positivo.
🤝 5. Busque apoio emocional seguro
Ambientes e relações seguras estimulam a liberação natural de dopamina, além de reduzir a atividade da amígdala anterior (ligada ao medo).
Como praticar:
- Cultive vínculos com pessoas empáticas.
- Compartilhe medos com amigos ou terapeutas.
- Sentir-se acolhido ajuda o cérebro a registrar que não há mais perigo.
🎯 Conclusão
A pesquisa nos mostra que a dopamina não é só sobre prazer, também é uma aliada na superação do medo. Ao aplicarmos práticas que:
…estamos, na verdade, reprogramando o cérebro para esquecer medos desnecessários e construir uma resposta emocional mais saudável.
Se quisermos reduzir a ansiedade de forma duradoura, o segredo pode estar em ensinar o cérebro — com a ajuda da dopamina — que o perigo já passou.

Pós graduado em Administração de Empresas. Redator Profissional, Pesquisador e Criador de Conteúdo para Blogs.