Herói: Cada Ser Humano Possui Uma Força Dentro de Si. Somos todos os dias convidados a realizar algo em nossas vidas.
Seja por vontade própria ou pela necessidade de atender o outro ou pelas circunstâncias da própria vida.
Muitas vezes o fazemos de forma consciente, outros momentos, estamos embalados pela rotina, sem muita consciência, como diz o Zeca Pagodinho:- deixando a vida nos levar.
Afinal, como é ser herói nos dias atuais? Do que se trata este arquétipos?
Uma oportunidade de troca a respeito deste princípio que se estabelece logo no início da vida, antes mesmo da primeira respiração.
Como estamos cuidando deste herói e quais são os desafios e conquistas que nos impulsionam para ativá-lo?

No documentário, O Começo da Vida, da diretora Estela Renner, Dr. Stanislav Grof, psiquiatra do Instituto de Estudos Integrais da Califórnia diz:
“O nascimento é a primeira jornada do herói. Nascer é o primeiro e grande desafio de uma pessoa: Lutar para passar pelo canal de nascimento”.
De fato, se avaliarmos este momento, apesar da dependência da mãe para virmos ao mundo, somos desde muito cedo convidados a fazer a nossa parte.
A vida começa embalados pela mãe ou cuidadores e estabelecemos os nossos primeiros passos no mundo.
Seguimos a nossa jornada e com ela os desafios se apresentam. Com eles temos a escolha de aprendermos ou não as lições trazidas.
A Saga do herói
Colaborando com este início de reflexão, temos segundo Campbell (1990), a citação sobre a saga do herói, em seu livro o Poder do Mito:
“Não precisamos correr sozinhos o risco da aventura. Pois os heróis de todos os tempos a enfrentaram antes de nós.
Temos apenas que seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontraremos um Deus.
E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter ao centro da nossa própria existência.
Pensavamos estar sós e estaremos na companhia do mundo todo.”

Segundo Christopher Dell (2014) o mito é a tentativa de narrar toda uma experiência humana, cujo, propósito é demasiado profundo.
Indo fundo demais no sangue e na alma para uma explicação ou descrição de natureza psicológica.
Ao lidarmos com estes dois conceitos é interessante pensar até que ponto a contemporaneidade tem nos permitido ser heróis. E melhor: Ser heróis de nós mesmos?
O dia a dia é repleto de ações que tomam quase às 24 horas e não total porque ainda podemos descansar.
Funções e tarefas precisam ser realizadas. Afinal, não fazer isto é estar distante da normalidade. Portanto, muitas vezes distantes dos desejos e sonhos sobre uma vida menos agitada.
Com menos compromissos, mais inteira e próxima da realização de quem realmente podemos ser.
No livro Símbolos da Transformação (2014) Jung afirma:
“É a incapacidade de amar que priva o homem de suas possibilidades. Este mundo é vazio somente para aquele
que não sabe dirigir sua libido para coisas e pessoas e torná-las vivas e belas para si.”
De fato, a capacidade de amar está perdida? Será que o herói interno morre um pouco a cada dia? Temos a vida que realmente desejamos?
São várias perguntas que merecem atenção:
Este ensaio não tem a pretensão de respondê-las. Mas de deixar um espaço para reflexão de até que ponto tem sido permitido o chamado para a aventura. O encontro com o nosso mentor ou sentido de religar.
Na busca do nosso SELF, para enfim, poder vencer as próprias batalhas e usufruir de recompensas com real satisfação.
Colaborando ainda com esta proposta, segue a frase de Fernando Pessoa:
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas. Que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
Patricia Razza
Fonte: Jung na Prática
Referências
Campbell, Joseph – O poder do Mito, São Paulo: Palas Athena, 1990.
Dell, Christopher – Mitologia: um guia dos mundos imaginários – São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2014.
Jung, Carl G. – Símbolos da Transformação, Obra Completa 5. São Paulo. Ed. Vozes, 2010.