Era uma vez…um castelo medieval habitado por um rei, uma rainha, e toda a sua corte. Cada quarto tinha um espelho que era muito pouco usado.
Ninguém gostava de se ver no espelho; ao contrário, todos sentiam um certo desconforto olhando a própria imagem refletida.
Um dia, não se sabe como, quebra-se o espelho de um dos quartos . Após alguns dias, a rainha nota que naquele quarto sem espelho alguma coisa tinha mudado.

As pessoas param para conversar, trocando opiniões, conhecimentos e risadas. Nota-se um clima alegre e relaxante, que não somente faltava antes, mas que continua a faltar nos outros quartos.

A rainha conversa com o rei, afirmando que, para ela, o motivo da mudança deve-se a falta do espelho. O rei parece não acreditar na rainha, mas ela, mostrando-se convencida, deseja verificar sua hipótese com um experimento.
Pede ao rei que tire o espelho de um outro quarto e observe o que acontece.
Após alguns dias, o rei não pode senão dar razão à rainha, nesse quarto também se verifica o mesmo fenômeno:
As pessoas sentem-se à vontade, não existe mais aquele desconforto, aquele incômodo que se notava antes e que se percebe ainda nos quartos com espelhos.
Não necessitam de outras provas, mas estão curiosos em conhecer a origem daqueles estranhos espelhos.
Então, o rei faz uma pesquisa nos arquivos do reino, descobrindo que tinham sido construídos por um alquimista, que possuía a ambição de indicar a perfeição.
Preparando a mistura para os espelhos, tinha usado uma fórmula mágica, que exibia os defeitos de quem se deixasse neles refletir.
O alquimista achava que poderia estimular as pessoas a melhorarem a si mesmas, a corrigir seus defeitos.
Essa era a intenção positiva do alquimista, mas infeliz e contrariamente tinha obtido desconforto, mal-estar e vergonha.
As pessoas não gostavam de ver de perto os próprios defeitos, sem poder, ao mesmo tempo, ver os próprios méritos.
O rei e a rainha decidem então eliminar os velhos e comprar novos espelhos. O rei ocupa-se pessoalmente da compra, pois dessa vez, não quer correr riscos.

Vai então à cidade dos espelhos, rodando pelas lojas, a procura da mais adequada. Entra na primeira, onde encontra um vidraceiro especializado em molduras.
Enquanto o rei pede para ver alguns espelhos, o vidraceiro mostra a beleza, o valor, a fartura, o refinamento e a preciosidade de suas molduras.
O rei percebe que não é esse o vidraceiro que lhe serve e parte para outra loja.
Na segunda loja, o rei vê belíssimos espelhos de mosaico, compostos por inúmeros fragmentos elegantemente reunidos, mas que só permitem a visão de um pequeno pedaço de cada vez e não da figura inteira:
Essa também não era a loja que o rei estava procurando.
Entra numa terceira e percebe logo que nessa vendem-se espelhos que fazem parecer alto quem é baixo e baixo quem é alto; magro quem é um pouco gordo e um pouco gordo quem é magro.
Então, o rei acha que já chega de espelhos deformantes, não é o que procura.
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A essa altura, o rei está perplexo. Não pensava que a busca por um simples espelho pudesse ser assim tão complicada.
Ocupado nesses pensamentos, ouve alguém cantarolar. Deixa-se guiar pelo canto, chegando num ateliê onde um vidraceiro está terminando um espelho.
O rei observa-o trabalhar e lhe bastam poucos indícios para compreender a habilidade do vidraceiro acompanhada por uma profunda serenidade.

Curioso, o rei pergunta o que o faz assim tão sereno. E o vidraceiro responde:
“Tenho um trabalho que amo e me da satisfação, uma mulher amiga e companheira fiel e dois filhos saudáveis e simpáticos. Não existe nada no mundo que eu possa desejar mais do que isso.”
O rei, então, pergunta o que tem de especial em seus espelhos. O vidraceiro responde que seus espelhos são muito simples, essenciais, executam sua função natural.
O rei pergunta qual é a função natural de um espelho. O vidraceiro responde:
“Refletir.”
O rei não parece satisfeito com a resposta e de novo pergunta ao vidraceiro:
“Diga-me, você que é um especialista, qual é o segredo encerrado nos espelhos, qual é a sua magia?”
O vidraceiro pensa por um instante e responde:
“O segredo dos espelhos está nos olhos de quem vê”.
Do livro: Metáforas – Para a Evolução Pessoal e Profissional
Consuelo C. Casula